quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Entrevista - Floriano Barboza

Nossa equipe convidou o Professor Floriano Barboza para uma conversa sobre globalização, o Professor Floriano é Mestre em Administração de Empresas e Professor em diversos Cursos de Graduação e Pós-Grauação, em diversas Faculdades de Salvador. Confira abaixo a entrevista na íntegra:

O que é globalização?

Prof. Floriano: Quando falamos de globalização, precisamos saber que globalização é mundialização ou internacionalização, que nada mais é do que a quebra de barreiras, ou seja, uma universalização nas relações. Os países começam a se relacionar e interagir economicamente, socialmente, politicamente, culturalmente e começam a influenciar todos os outros países, ou seja, a cultura que existia começa a ter influência de sub-culturas que não faziam parte daquela sociedade. Além disso, toda estrutura econômica do mundo passa a ser global e não local como era focado antigamente. O grande exemplo disso é o desespero que está acontecendo com o sistema financeiro habitacional dos EUA.

A globalização é uma idéia nova?

Prof. Floriano: Não. Há muito tempo atrás já se falava que a economia seria universalizada. Para a economia se universalizar, obviamente os países teriam que estar muito mais próximos a aquilo que chamamos de hierarquia da era da tecnologia e da informação.

A globalização não seria um meio mais fácil para americanização?

Prof. Floriano: Alguns pensadores cientistas dizem que sim, outros que não. Porque a cultura à priori não se muda, se molda. Mas quando você molda alguma coisa de certa forma ela se altera e quando ela se altera não significa que ela está mudando; então eu acredito que as culturas não serão mais as mesmas depois de todo esse processo de globalização. Não seria o fim da cultura porque baiano nunca vai deixar de comer acarajé e deixar de falar oxente; paulista não vai deixar de falar mãieeeee. Uma aproximação cultural muito forte entre uma cultura e outra vai acontecer com certeza. Um exemplo disso é a “americanização” em tudo o que falamos,vestimos, usamos, ou comemos. All open, mouse, Milk shake, …

As chances de haver guerras diminuem devido à globalização e a satisfação que os países devem aos outros?

Prof. Floriano: Eu não digo que sim porque é assim com as informações, tecnologias e as mudanças ambientais. O país e o mundo começam a ter uma preocupação única, que é salvaguardar a vida e promover a existência dos seres vivos em nosso planeta que está ameaçadíssimo. Então, na realidade, a questão de paz está muito mais atrelada à necessidade de manter os amigos do que na questão da própria globalização. Com a globalização, a abertura de mercados e com a venda de tecnologia e informações, tudo ficou mais latente. E hoje provavelmente vai ser questionado porque os EUA invadiram o Iraque e tem tanto interesse em outros os países que tem os recursos naturais que eles não têm. Então a paz está muito ligada ao interesse da nação e ao enfoque do poder.

A globalização diminui com o endividamento de governos pela dependência que um tem do outro?

Prof. Floriano: A dependência é muito grande e o endividamento do país era normal. Antigamente era normal, até porque o próprio Brasil passava por isso. Por exemplo, esquecendo a questão política, ideologias e partidos, nós nunca tivemos uma política econômica tão segura com o governo como a que temos agora. Então, na realidade, quando falamos que o governo pode se endividar sem conseqüências maiores, hoje com a globalização ficou mais nítido e é cobrado pela sociedade inteira que o país saia desse endividamento, como nós saímos. Por exemplo, Cuba hoje está pedindo a eliminação do embargo econômico exercido pela ONU há muito tempo e o mundo esta cobrando esse tempo, pois Cuba é riquíssima em intelectualidade, mas extremamente pobre em recursos produtivos. Então eu acho que o verdadeiro sentido do mundo é que todos tenham a capacidade de agir e pensar livremente. Eu penso e espero que isso ocorra.

A globalização pode diminuir a desigualdade social?

Prof. Floriano: A globalização só vai fazer isso quando os países entenderem e deixarem bem claro para sociedade que crescimento é diferente de desenvolvimento. O que ocorre é que muitos países cresce. mas não se desenvolvem. Por exemplo, o setor da agricultura projeta um crescimento de 30%. Isso é bom para o país? Esse processo é aumento de produção, e todo aumento de produção está nas mãos dos produtores. Mas se tiver o aumento do crescimento de 30% na agricultura e um desenvolvimento de 25% no país, significa que junto com o crescimento vem educação, saúde e emprego, porque o país só se desenvolve se conseguir fazer com que a sociedade consiga produzir seus recursos, se manter deles e em função deles.

A globalização exige mais estruturas das grandes empresas?

Prof. Floriano: Eu não digo que é a globalização e sim competitividade. A competitividade tem que existir e é muito boa para sociedade. Nós não sofríamos tanto em nossas indústrias porque o mercado não era aberto; mas no momento que o mercado foi aberto com a própria globalização, o que ocorreu? Veio a competitividade e destruiu muitas indústrias. Então hoje para uma indústria se manter no mercado ela tem que buscar inovações, estar em sintonia com a tecnologia e com novos sistemas.

A economia americana pode despencar com outras economias? Por quê?

Prof. Floriano: 70% das negociações são com dólar, moeda oficial dos EUA. Por esse motivo muitos contratos estão sendo feitos em Euro. Por exemplo, Gisele Bündchen só faz contrato em Euro que é mais valorizado que o dólar. O Brasil tem 30% de reserva interna investida em dólar; se os EUA derrubam o sistema financeiro, tudo despenca porque os nossos bancos têm participação nesses empréstimos.

Você acha que os EUA contribuem pouco para o sucesso mundial?

Prof. Floriano: Primeiro eu queria que vocês entendessem que o único interesse que os EUA têm no mundo é a matéria prima. Eles querem vender serviços. Para eles não interessa o nosso suco de laranja, e sim a laranja, que é transformada em suco, agrega valores e vendem muito mais caro. Assim também é com a nossa gasolina. Eles têm interesse em nosso petróleo. Eles compram uma saca de café que, por exemplo, custa R$100,00 e transforma em milhares de xícara de café ao preço de R$3,00 gerando um lucro incalculável. Por isso que eles têm interesse em nossos grãos e não em nosso café. Então os EUA poderiam contribuir bem mais se reduzissem o protecionismo por seus produtos e reduzissem barreiras.

Qual seria a definição do profissional moderno?

Prof. Floriano: A primeira coisa que tem que se entender, é que tudo tem que ser generalizado e especificado. Se não gosta de química, entenda pelo o menos o básico; se não gosta da agropecuária, leia para saber por que existe. Mas seja excelente no que faz. E, principalmente, trabalhe suas competências para ver se você tem dificuldade em alguma ferramenta, e tem facilidades em outras. Supere-se. O que você não pode é ser deficiente em todas as ferramentas. Por isso o profissional globalizado hoje tem que estar em sintonia e criar o tempo inteiro. Visões, observações, análises e percepções, dinamismo, inovador, criativo e acima de tudo conhecer o seu produto e o produto do seu concorrente. Trabalhar sempre em equipe. As pessoas têm que entender que competividade não é destruição de concorrência, você tem que ter diferencial para com seus concorrentes .

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